sábado, 4 de outubro de 2008

L'amour

De um dia para o outro
Concretizou todas aquelas
Inuteis e inumeras tentativas
Se via limpo, sóbreo
Nada além de sangue corria em suas veias
Nem mesmo o alcool
Aquele que fora sempre seu companheiro
Voltou a estudar
Arranjou um emprego como professor
Pensou em todas as pessoas
Que trocou pelos vicios
E sentiu-se só novamente
Não que isso fosse novo
Era um lugar comum
Para o qual retornava
Noite ou outra
-
E numa dessas
Acabou por avistar uma menina
Comum assim como ele
Não era perfeita e esbelta
Tinha uma aparencia inteligente e distante
Nada de sintético ou modelado
E ainda assim, tão bonita
E sentiu despertar derrepente
Algo a tempos perdido
Apaixonou-se instantâneamente
Sentado naquele banco de praça
Comendo o sanduíche
Que substituia o seu almoço
E mesmo notando suas resoluções
Renegando essa paixão recem descoberta
Permitiu-se a indulgencia de ama-la
Naquele isntante
Ama-la com os olhos simplesmente
Ela sentava num banco frente ao seu
Lia um livro saboreando-o
Logo se levantou e foi-se embora
Sem sequer lançar um misero olhar de despedida
-
No dia seguinte ele sentou no banco adjecente
Esperou por ela religiosamente
Ela não veio, ele permaneceu
Imaginando se fora só acaso
Dias depois encontrou-a numa festa
Em meio a amigos
Aproximou-se voraz em desespero
Somente para recuar quando sentiu seu cheiro
Sentiu os dentes trincarem ao mero odor da cocaina
Sentiu o estomago embrulhar ao inalar o odor do alcool
E sentiu o coração encolher, Como uma flor que murcha no inverno
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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Depois do Carnaval

Fiz uma lista
Pra não me perder
Nas próximas 24 horas
Chorei dormindo
E sonhei com um lugar tranquilo
Rezei três dias
Para cada dia perdido
Reguei as plantas
Para mante-las vivas até o verão
Deixei a mim de lado
E fiz tudo por um irmão
Dizem que combino com a solidão
Tem gente que não sabe ler
Tem gente que não sabe dizer não
Eu não sei dançar
E não sei ser qualquer outra coisa
Que não seja eu
...

Eu e o Céu

Perdi meu rosto
E agora tudo é pequeno
A lastima, esse olhar obceno
Não guardo
Quero o mundo aos pedaços
Sem nada de grande ou verdadeiro
O sabor da liberdade
Parece de remédio, Traiçoeiro
Um abismo
E hoje a noite sou um deus
Com meus amores certeiros
Sem nomes, telefones ou endereços
- Hoje a noite, somos só eu e o céu
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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Diana (Dama Branca)

Eu sou a tua morte
Branca e cristalina
E te encaro com trejeitos
Dominante, Deliciosa
Me busca na distancia
Me caça pelo cheiro
Ignora a tudo o que sabe pra estar comigo
Me devorar num lépido instante
Eu sou a euforia
E te faço potente e imortal
Um Deus três vezes ungido
Senhor da guerra
Afrodite da beleza masculina
O mais sábio dos profetas
E te abandono ao sono
Antes do raiar do dia
Para que sonhes comigo de novo
Eu sou a tua morte
Numa linda e demente fantasia
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Câncer

Me da tua mão
Toca meu rosto
Sente minha face
Já que te recusas a me ver de verdade
Me beija a boca
Sente meu veneno
Te embriaga com meu cheiro
Me chama de amigo
Me sente perto
Descansa sobre meu peito
Sou todo teu
Enquanto estiver aqui
E quando partir
Serei diferente
Tu me conheces bem
E ainda assim insiste em me ter por perto
Eu sou a tua morte
E bato na tua janela a noite
E te peço abrigo e carinho
E tu me acolhe
Estende o braço ao abismo
Somos o fim um do outro
Amantes e assassinos
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Arlequim

Que venha a hora inclemente
O ápice da loucura infante
Subto como um raio
Que fulmine
E que da dor lancinante
Brotem flores vivas
Violetas, lindas violetas brancas
E do idolo que se tornou
Toda verdade sangrou
Numa hemorragia de verbos mentirosos
Caminhei tanto meu amigo
E agora que cheguei
Me vejo ainda mais sozinho
Sei que cheguei a algum lugar
Mas esta terra morta
Era diferente em meu sonho
Vivo, e cheio de cores
Busco um caminho
Uma ponte para a eternidade
Fugir deste deserto longinquo
Na esquina
Uma sombra me chama
Quer ouvir uma mentira bonita
Me embreagar
Me levar pra cama
E um simples "não" me salvaria
Deste calvario de noites vazias

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Coleção

Sobre um armario escolhido
Com muito carinho e zelo
Há um altar povoado
De velhas paixões do passado
Uma é negra e esguia
Com os dentes bem brancos e bonitos
Mas tropeçou e ficou no caminho
Atirado como um bebado maldito
Uma tem os olhos bem verdes
E um sorriso canalha
E de tão canalha
Fugiu para praia com meu melhor amigo
Uma é mulata e infante
Cheia de perguntas estúpidas
Mas o perfume
Hum, disso nunca me esqueço
Uma é bem branca e infame
Inocente, quase um anjo
Com alguma sorte
Talvez eu seja o primeiro
Da coleção de erros na sua estante
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Plagio

E de tanto que a amava
Terminou, esperando que
Algum arrependimento a fizesse
Recobrar a paixão que morria
Saiu do apartamento, irredutivel
Sem saber que matara aos dois
Em apenas um dia aconteceu
Algo sem concertos se quebrou
A alma o coração ou coisa que o valha
E seu silencio de tão calmo fascinava
E realmente já nem importava
Já passara a fase de se trancar no quarto
Causar preocupação
A verdade é que as coisas de uma hora pra outra
Pararam de fazer sentido
E não sentia fome ou sono
Era como se nem estivesse vivo
Seus olhos fundos davam a impressão
De um oceano, atrás de uma parede de tijolos
E toda essa dor
Não trouxe de volta a mulher
A quem abandonou ainda apaixonado
Um dia de chuva
Um carro desgovernado
E um futuro, morto no passado
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Querida Carolina

Carolina nunca quis trabalhar
Fazia do mundo sua sala de estar
Tinha planos de ir embora
Para algum país distante
Onde pudesse sentir-se viva
Ignorava o tremendo vazio
Que a esmagava todo o dia
Estava lá, em tudo o que fazia
Já nem sequer dormia
Talvez fosse a depressão
Talvez fosse a cocaína
Talvez os dois, por que não?
Sei que despertou uma tarde
Tomada de paixão
E dos tempos morbidos
Nem restos restaram
Eo rapaz que nem 18 tinha
Também era um pleno vagabundo
Vagando só noite e dia
Sem causa, crença nem rumo
Sem lugar no mundo
E desejava derrepente
Se ver sempre refletido
Naqueles olhos tão castanhos
Em menos de um mês
Carolina o deixou
E do que era o rapaz
Nem resto restou
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terça-feira, 26 de agosto de 2008

Os Anjos

Eia pombas brancas
Menssageiras do Criador
Carregando nas patinhas
Recadinhos de amor
Para suas viuvinhas
Eia Rolinha branca brincalhona
Distribuindo o afeto divino
Com suaves bicadinhas
Nas bundinhas das freirinhas
Eia Pomba negra grandona
Que voa só a noite em segredo
Roubando de mansino
A inocencia e o medo
Das noivinhas do Senhor
A cada bicadinha
Um Gemido de Louvor
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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Diarréia Verbal

E que me importam teus vizinhos?
Teu trabalho? Teus Sobrinhos?
Te Cala Por favor
Juro que a mim
Isso só incomoda
Mas não!Você é tão simpatico e sociavel
Cheio de opiniões
E por que não?
Adora falar
Divagar horas e horas
Nada consistente (ou sequer consciente)
Mas que adora, Adora!
Que tal se eu fingir que me importo?
Vou ficar aqui
Mastigando minhas resoluções
E fazendo uma careta ocasional
Quando me parecer apropriado
Enquanto isso, Vai com fé!
Vomita verbos como matraca
Pros meus ouvidos Fechados
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domingo, 24 de agosto de 2008

E Porque Não?

Os olhos se cruzam pelo salão
As luzes piscam Insanas
E o som abstrai qualquer sim ou não
Um sorriso flutua insinuante
Ao que outro se abre surpreso
E se encaram, Ambos presos
Cercando-se num cortejo
Não falam nada
Até por que não escutam nada
E em um instante lépido
As mãos se tocam "sem querer"
- Tu tem fogo?
E a resposta foi um Beijo
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Multilateralismo

Não faz diferença
E realmente não faz
É simples assim
Se digo "eu te amo"
(e mesmo que de fato sinta)
Pra ti é merda
Não valhe nada
Sou eu quem ama
A você pouco importa
Mas de qualquer forma
Dentro da minha cabeça
eu esperava algum tipo de gratidão
(Idiota não?)
E que te valhe esse meu amor?
Antes fosse algum dinheiro
Ou ao menos um emprego
Ê coisa mais sem sentido
Se eu te amo
Só eu que sinto
Amor então é invertido
Um dia inventam a vacina
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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bom dia Pedro

Numa Manhã Qualquer
Pedro acordou em sua cama
E nessa manhã enfadonha
Como em qualquer outra
Iniciou Sua série de rituais
Ainda deitado acendeu um cigarro barato
Lembrando-se que em minutos
Teria de reportar-se ao trabalho
Tomou um café de três dias
Meio morno e fraco
Por questão de economia
Fez a barba e cortou-se
Estancando a fenda
Com uma pequena bucha de algodão
Tomou Seu banho sem demora
Vestiu-se com zelo
E antes de Sair
Para que não acabasse por esquecer
Carregou o trinta e oito
E espalhou seus miolos pela sala
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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Romance Noir

I
Sempre que brinco
Acabo me machucando
E isso tem tantos sentidos
Quantos se possam imaginar
A boca rasgada
O olho roxo
A alma pesada
De mais um amor qualquer
Que se foi e não quis voltar
Deixou a porta entre-aberte
Pra poder me ver de longe
E eu que nem olhei
Deixei partir pra não sei onde
Um par de olhos Tristes
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II
E não Chorei
Tomei um Porre
"-Tudo, tudo minha culpa."
Mais um amor bobo que morre
E mergulhei numa piscina de arrogancia
Fumei Tres carteiras de Orgulho
Bebi Seis Garrafas de lembrança
Beijei a boca da vingança
E esqueci
Deixei de lado os rompantes
Abri a janela
E fui-me embora sorrindo
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terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Palco

Sou um Ator
Interpreto Emoções
Invento Nuances e Sensações
Tenho um Saco Cheio de Frases Feitas
Mentiras Perfeitas
Perfeitamente Sinceras
Que encaixo entre o fim e o meio
Se me Perco
Já Nem Sei o que Sinto
Pois sou Ator e nada mais
Qualquer emoção Seria Improviso
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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Amiga Parca

Tenho Andado Só
Companheiras Boas Parcas do passado
Meus velhos demonios Crias do Enfado
Atam-me na garganta um nó
-
A morte Soturna é Deusa Solene
Uma Falange de Anjos Caídos
Bebem meu sangue e Renascem Ungidos
Na Nascente Mortissa de min'alma perene
-
Tento escapar o Abismo
Banindo a Razão ao Inferno
Rezo ao nada, Santifico o Cinismo
-
Já desconheço à verdade
Cuspo a Virtude
E o que me resta é Saudade.
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domingo, 3 de agosto de 2008

Póstumo Romance

Os Dias não tinha Qualquer Graça
Ia eu a Caça de novos Perfumes
Sob a luz encantada de Vagalumes
Que se desfaz em Espectros de Fumaça
-
E um Rascunho de Redenção
A mim se parece a Morte
Rezo um anjo da Paixão ou Sorte
Que me Absolva de Minha Razão
-
E tento lembrar teu Nome
Me engasgo com a Rotina
E tudo o que sou Some
-
E nem Lembro de teu rosto
Esmaeceu-se Em minha Memória
Teus olhos Verdes Dois morangos mofados sem gosto
...

sábado, 2 de agosto de 2008

Silencio dos Malditos

Pesada, Constante Solidão
Imerso em uma rotina Qualquer
Sem Sombra de um Anjo Sequer
Sorvendo Hora a hora de meus dias Vãos
-
E isto de ser distante
Não é dor que se sinta aos gritos
O Silencio, Anatema dos Malditos
Não a deixa Transparecer por nem um instante
-
Submerso em Vicios Vulgares
Ja nem Sentindo benção ou Balsamo
Sonhando com Outros Lugares
-
Prisioneiro de Castas eleitas
Mais que Seculares
Eterno Refem d'um tabuleiro de contas perfeitas
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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sonho Morto

Sonho com um dia de Sol
Num Lugar distante que nem Conheço
Triste um sonho ser fim, e não começo
Sonho com um distante dia de Sol
-
Em meu Sonho Sou ainda menino
Não tenho muito nem pouco
A um tempo Sou Astuto e Maroto
Liberto e Libertino

E o Concreto disso tudo
É um plano decizivo
Que se edifica num futuro Mudo
-
Mas ai então serei Já adulto
Meu sonho Hábita o presente
E com ele, morro eu Junto
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