Quando acordei era por volta de umas duas horas da tarde, não lembro com exatidão, me sentia ainda meio bêbado da noite passada, decidi nem sair de casa até o sol baixar. Fiquei curando o porre. Tinha todo um ritual que era quase infalível, consistia em tomar banho, escovar os dentes, tomar um daqueles energéticos que os atletas tomam, pra repor meus eletrólitos e toda aquela merda e comer alguma coisa bem leve. Pronto, estava novo. Até cumprir todas as etapas do esquema passaram-se umas cinco, talvez seis horas, a noite já vinha caindo. Um amigo ligou e disse que tinha combinado com o nosso tecladista de fazer uma noite no apartamento dele, como eu não tinha idéia melhor e já a algumas semanas não conseguia falar com o pessoal da banda, topei na hora. Fiquei esperando ele e combinando com um outro amigo de tomar umas cervejas no nosso boteco de praxe na João Alfredo, o Eletric lady land.
Dois detalhes que talvez sejam de interesse do leitor: primeiro, ninguém tinha um tostão no bolso. Segundo, era uma daquelas noites que cheiram a coisa louca. O clima tava perfeito pra se sair na noite, a exata temperatura em que não se sente frio tomando cerveja ridiculamente gelada. Enquanto falava com o Mario pela internet, o interfone começou a tocar, interrompi a conversa e fui abrir o portão pro Felipe, o baixista da banda que já tinha chegado.
- E ai cara – ele falou enquanto já tirava o paletó e ia até a geladeira.
- E ai. – respondi enquanto já voltava pra frente do PC e terminava de combinar os detalhes com Mario. Ele voltou com duas long necks que tinham sobrado da madrugada passada, e me entregou uma aberta enquanto abria a dele.
- Tem algo de grana meu? – ele perguntou rindo de si mesmo.
- Nem pro crivo. – respondi rindo também.
- O Téo falou que também ta duro. – ele comentou ainda rindo.
- Ta, e a noite? – eu perguntei, sem nem pensar muito em grana.
- O plano é ir pro AP lá. – ele respondeu, encerrando a frase com um longo gole de cerveja, procurou pelos cigarros nos bolsos, acendeu um parando atrás de mim e encarando a tela luminosa do PC.
- Certo, só deixa eu trocar de roupa. – falei já me levantando. Ele tomou meu lugar enquanto eu trocava de roupa e ia apagando as luzes da casa.
- Me da um cigarro ai! Bah! Nem me lembrei! – falei voltando pra perto do computador. Ele estendeu o cigarro pra mim, abrindo a carteira com pouco mais de meia dúzia dentro. “Carlton Red” a quem interessar possa. Fui catando minhas coisas que sempre estão nos lugares mais estapafúrdios possíveis e imagináveis, chaves, carteira (não que houvesse algum dentro mas, enfim) e por fim, meia garrafa de vodka que tinha sobrevivido ao inicio do fim de semana. Taquei a garrafa na mochila e fui indo até a porta.
- Desliga tudo duma vez! – falei impaciente.
- Calma, to desligando... – voltei e chutei o interruptor no estabilizador.
- A ta. – ele disse rindo um pouco, mas só de leve, nada grave.
Fomos descendo os andares e conversando qualquer coisa que não consigo me lembrar agora, e muito provavelmente jamais lembre. Alcançamos o portão de saída, toquei no botão ao lado da parede enquanto ele abria a grade.
- bzzzzzzzzzzzzzz – falou o portão com um leve grunhido de cansaço. Provavelmente de ficar o dia todo sendo manuseado pelo bando de imbecis que me servem de vizinhos. De qualquer maneira descemos a quadra até chegar na rua da Casa de Cultura Mario Quintana e fomos andando rumo a cidade baixa. Atravessamos o centro tomando uns goles curtos de vodka e fumando aqueles cigarros de bicha do Felipe. Chegamos a independência e passamos pelo Bambus que estava ás moscas, exceto por um pequeno grupo de vagabundos, menores de idade, viciados em qualquer coisa que não dou a mínima pra o que venha a ser, seguimos andando e conversando, sem caminhar muito rápido por que também era muito cedo e estávamos um tanto quanto sem rumo até pelo menos uma meia-noite. Tentamos ligar pro Téo, mas o celular só tocava e não atendia nunca, devemos ter tentado um bilhão de milhões de vezes, até encher o saco MESMO de ouvir aquela mulhérsinha que fica te mandando deixar um recado que ninguém escuta (exceto viciados em anfetamina com tempo demais nas mãos) após o bip. “biiiiiiiiip”. Começamos a ligar pra todo mundo que poderia por ventura ter o número do convencional e enquanto isso íamos bebendo vodka bem aos pouquinhos só pra dizer que estávamos bebendo alguma coisa, e fumando aqueles cigarros de bicha que a essa altura já estavam quase acabando. Paramos naquela praça na frente da igreja que fica bem no meio da AV. Independência, decididos a conseguir contato com Téo, ligamos pra todo mundo que conhecia ele, ligamos pra mãe dele, pro pai, pras tias, pra madrinha de casamento, pra puta que o pariu, e nada de conseguir o maldito número, os créditos já estavam pela hora da morte e a gente cansado de ouvir tantos “não sei mesmo”. Decidimos ir á casa do avô do Felipe pra usar o telefone e guardar o restante dos créditos pra uma emergência ou qualquer troço do gênero. Caminhamos até a Av. João Pessoa e atravessamos rumo a José do Patrocínio, indo reto pela República, dobrando e caminhando até quase a Perimetral, uma puta caminhada. Quando chegamos aos últimos dois cigarros o Felipe falou:
- Cara, vamos guardar esses pra quando a gente sentar ou algo assim – e eu concordei com a cabeça por que além do cigarro não ser meu, já tínhamos fumado quase a carteira toda e a noite ainda ia ser comprida.
Entramos de fininho na casa do avô dele, que não tinha pátio, nem cachorro, ele tinha as chaves, o telefone ficava logo no primeiro cômodo e o velho dormia como uma morsa, dava pra ouvir os roncos nitidamente, mesmo estando um tanto longe, diabos... acho que se eu me concentrasse a noite conseguiria ouvir lá da minha cama no meu JK fodido. Eu fui sentando do lado do telefone enquanto Felipe ia na cozinha sorrateiramente, tentando roubar algo de beber da geladeira sem acordar a morsa maluca. O avô do Felipe era um cara muito excêntrico, daqueles velhos bem caducos mesmo, dormia com um 22 do tempo do Zorro embaixo do travesseiro e era cego como uma toupeira, dizem que volta e meia apontava pra qualquer pessoa passando pela casa e falava algo doido do tipo: “IDENTIFIQUE-SE OU ATIRO”. Comigo nunca tinha acontecido e olha que eu freqüentava bastante a casa do velho, normalmente assim, às escuras, com ele dormindo e roncando que nem uma morsa. Bom de qualquer maneira, tentei ligar mais umas vezes pro Téo e nada do filho da puta atender, já tava quase arrancando os cabelos de ódio, fico muito irado quando não atendem telefone, me sinto até meio ofendido, e as vezes nem é culpa do cara, mas eu sou meio louco e como sempre esqueço assim que arranjo algo melhor pra fazer, não faz a menor diferença. Felipe voltou com uma carteira novinha de cigarros que o pai dele tinha esquecido por ali, e a terça parte d’uma garrafa de vinho do porto que tava na geladeira a uns 3 meses quase.
- E ai? Nada? – ele perguntou acendendo o penúltimo dos cigarros dele, e me atirando o outro no colo.
- Nadinha. – respondi com a voz em algum lugar entre o desanimo e a irritação.
- Bom. Foda-se! Ele que vá pro diabo! A gente faz a noite mesmo assim, vamo passa no trabalho do Rodrigo, e convida ele pra ir junto pro boteco – ele falou bastante irritado enquanto já ia saindo, saí na frente e fiquei fumando enquanto ele chaveava a porta. Demos um passo em direção ao portão e o telefone começou a tocar loucamente! Felipe pensou rápido e tascou a chave na porta o mais depressa que pode!
- Riiiiing! Riiiiing! Riiiiing! – berrava o telefone nos ouvidos do mamute adormecido! Um segundo antes de Felipe conseguir atender, o telefone parou de tocar, eu entrei junto pra ver se o velho tinha acordado ou algo assim. Felipe falava ao telefone, com a voz mais macia que conseguira desenterrar na hora, parecia até uma cantiga:
- Já atendi vô... Sim é pra mim vô... Não vô. Não to dormindo aqui... Onze e meia vô... To bem sim vô... Boa noite vô – a essa altura eu já estava me mijando de rir, então saí pra não fazer muito barulho e acabei perdendo o resto da conversa. Ele saiu em seguida rindo também, mas sem fazer barulho.
- Bah! Que cômico, o vô tava tri afim de conversa... – ele falou enquanto girava de novo a chave e trancava a porta.
- Era o Téo? – perguntei indo já para o portão e pegando o cadeado.
- Era sim, ele falou que fumou uma bomba e acabou pegando no sono, mas já ta vindo nos pegar em uma meia hora. Que tu acha de a gente ir buscar o Rodrigo? – ele falou já tomando o rumo da Venâncio e eu concordei só chacoalhando a cabeça e fazendo um sinal com a mão pra ele passar o vinho.
Fomos tomando vinho e caminhando meio rápido até a Venâncio onde o Rodrigo trabalhava, ele era cozinheiro num restaurante bacana pertinho do Bar do Beto. Quando chegamos fomos cumprimentando toda a equipe do bar e pedimos pro Jader, o dono mandar uma cervejinha e anotar na conta, fomos até a cozinha e o Rodrigo já tava lavando os troços quase pronto pra sair.
- E ai meu! – Falou Felipe, se escorando no balcão onde faziam os pedidos. Rodrigo só olhou com cara de bravo e continuou fazendo o que tinha que fazer. Se tem um cara que é mau-humorado, esse cara é o Rodrigo, ele sempre da mil voltas quando a gente pede alguma coisa, principalmente quando o assunto é cozinhar, sem falar no monte de frescura! A gente inclusive brinca que pra ele cozinhar qualquer coisa com creme de leite só se ele mesmo ordenhar a vaca holandesa e bater o creme, e ainda se corre o risco de ele se lembrar de algum detalhe mínimo do tipo: “A! mas essa vaca não é de uma boa safra!” e jogar o troço todo fora cheio de desdém. Mas o ponto positivo disso é que, tudo o que ele faz ou tem, é da melhor e mais incontestável qualidade.
- E ai meu, que horas tu sai hoje? – Perguntei me aproximando também do balcão.
- Daqui a pouco. – Falou ele emburrado.
- Ta! A gente te espera ali fora então. Botamos uma cevinha na tua conta, ok? – disse Felipe com uma cara de deboche que só ele sabe fazer, ao que Rodrigo nem sequer respondeu só ficou ali lavando mil utensílios de cozinha, daqueles que um pobre mortal não faz nem idéia de que existem, e se souber também não faz idéia de como usar.
Sentamos num balcão e fizemos sinal pro Jader trazer a bendita cerveja, não ficamos ali tempo o suficiente pra terminá-la, Rodrigo veio já despido dos uniformes e usando a sua infame gandola e nos ajudou na árdua tarefa de tomar aquela geladíssima antártica original, a quem interessar possa. Ficamos de papo pro ar uns minutinhos terminando aquela cerveja e meu celular tocou, era o número do Mario, Atendi e falei pra ele ir até a esquina da Venâncio com a João pessoa e seguimos todos pro rondevous de praxe. O postinho da Venâncio. Rodrigo no caminho sacou de um tijolo de maconha quase do tamanho d’um punho! E começou a esmurrugar enquanto caminhávamos.
- Caras, acho que não vou mais pra Sampa... – falou ele inconclusivo
- Que houve cara? – perguntamos em coro.
- Bom, primeiro que acabei gastando mais do que devia e to meio com medo de passar necessidade lá e ter que voltar com o rabo entre as pernas – puxou a carteira com uma mão e me deu – pega a ceda – peguei uma e dei pra ele, Pure Hemp, a quem interessar possa. Ele continuou:
- E também me fizeram uma proposta... – falou de novo, sempre deixando lacunas, um hábito que deixava todo mundo louco quando ele contava uma história, na verdade acho que ele esquecia de completar as frases e afirmações, passava o dia todo fumando maconha, pra acordar, pra dormir, pra cagar, comer, tirar o lixo, bater punheta, e qualquer outra sorte de tarefa que se possa imaginar.
- Que proposta? – Perguntou Felipe. Eu fiquei quieto ouvindo um tanto distraído.
- Uma guria que eu namorei a muito tempo disse que vai abrir um bistrô pela cidade baixa, e me falou que ta procurando um sócio. Como eu tenho alguma grana guardada, acho que pode ser um bom negócio. – Ele falou rindo por entre os dentes. Quase escondidos embaixo daquela barba. Que barba! Tinha inveja daquela barba, eu particularmente nunca tive saco de deixar a cara toda peluda, mas a barba dele era algo de se apreciar, bem aparadinha, volumosa, um desbunde!
- Bah! Que coisa bacana! E a gente vai poder beber de graça? – Perguntei já rindo e esperando ele esbravejar ou rir loucamente.
- A! Claro! Leva a tua mãe pra ela pagar a conta, vai aceitar visa, máster e boquete – falou ele rindo como uma hiena.
- Nem duvido! Bem louca! – respondi brincando (ou não).
A conversa continuou enquanto esperávamos os dois faltantes. O Mario chegou primeiro.
- E ai caras. – Falou ele sorrindo, era um cara enorme quase dois metros de altura, era o nosso segurança, e vice versa. Todo mundo cumprimentou e começamos a conversar paralelamente botando todas as novidades em dia.
- Bah! Me dei muito! Tava com menos de um pila no bolso, só tinha aquela maconha de semana passada, e nem pude fumar por que o pai veio passar uma semana aqui também. – Mario não era de Porto Alegre, era Uruguaio mas morava em porto alegre a uns bons quatro anos e quase nem se notava o sotaque. – Daí quando fui sair ele me perguntou como eu tava de dinheiro, mas não falei nada. Ele me deu vinte pila! To rico! – Continuou se rindo todo. Vinte reais é de fato uma fortuna pra quem não tem absolutamente nada na carteira, acredite.
O homem do teclado apareceu uns quinze minutos depois do combinado, mas nem notamos a espera, de tão boa que tava a conversa. Ele tava de carro e depois de todo mundo entrar e se cumprimentar, ele lançou o fatal:
- Pra onde gurizada? – tava com uma cara engraçada, parecia meio chapado ainda, tava até meio catatônico ou qualquer coisa que o valha.
- Eletric lady land né meu?! – falei ascendendo mais um cigarro. Todo mundo assentiu.
O Téo, era o cara mais legal da galaxia, era um pouco mais velho que o resto, amava um bom e velho rock n’ roll, não passava sem uma cervejinha e tava sempre disponível pra maluquices pela madrugada. Ele tinha um DVD pelo qual era pirado chamado “O universo”, todo mundo zoava que tinha custado noventa contos e era uma porra de um documentário do Discovery Channel ou qualquer outro canal que fica jogando informação cientifica mastigada pra leigos vinte e quatro horas por dia. Ele adorava! Vivia corrigindo os outros com afirmações das mais variadas. A pouco tempo o pessoal do escritório de contabilidade onde trabalhavam ele e Felipe tinham feito um passeio de caiaque em algum lugar do Acre, ou Sibéria, ou Três Coroas, Prússia, sei lá, e uma das gurias comentou algo do gênero: “- Nossa que lindo esse pôr-do-sol” ao que ele respondeu no mesmo segundo “BURRA! É UM CREPUSCULO!”.
De qualquer forma fomos até o Eletric lady land, mas a essas alturas já tava fechado. Como estávamos sempre por ali e éramos bem amigos do dono, pedimos pro segurança pra falar com ele e o cara deixou numa boa. Rodrigo entrou e no segundo seguinte estávamos sentados numa mesinha redonda ouvindo Led Zeppelin. Alguém ordenou: - Mostrem as cartas gurizada! – ao que todo mundo puxou todo o dinheiro que tinha e lançou no centro da mesa, tinha uns trinta e cinco contos, o que ali significava cerca de 7 litros de cerveja. A cerveja mais barata da cidade. Polar, a quem interessar possa. Durante o primeiro litro todo mundo conversava um tanto pausadamente, meio que aproveitando pra matar a sede da caminhada e de todas as outras peripécias, já durante o segundo começaram a surgir as máximas incontestáveis. Aquele tipo de coisa que, quando sai da boca de alguém, toda a mesa para de falar e ri até doer o abdome, ou faltar ar, ou desmaiar, enfim “you get the picture”. A primeira se não me engano foi do Mario.
- Sabe esses pesquisadores, que como trabalham com isso e precisam de fundos pra se manterem trabalhando inventam as coisas mais absurdas pra se pesquisar. Bom, um grupo de pesquisadores alemães, ou austríacos, ou sul africanos, descobriram que tomar ducha faz mal a saúde, por que conforme o plástico é aquecido pela água ele libera uma substancia, isso ao longo de um certo tempo é claro... – falou Mario, eu interrompi.
- Quanto tempo? – olhando com atenção.
- Sei lá, uns anos eu acho, mas enfim aquilo se mistura às partículas de água que ficam no ar e é absorvido pelo pulmão causando uma doença do mal lá. – Concluiu Mario.
- Mas nunca ninguém morreu de ducha! – Falei resignado.
- Não tem como saber, pode ter morrido, vai saber – Falou Téo.
- Bah! Vai ver os europeus já sabiam disso a muitos e muitos anos! – Falei, no que todo mundo despencou a gargalhar e encerrou o assunto.
As cervejas continuavam vindo e lá pelas tantas, Téo lançou outra máxima incontestável enquanto uma discussão política começava a surgir de fininho.
- O Brasil é o único país em que além de, puta ter orgasmo, cafetão ter ciúmes, e traficante ser viciado, pobre é de direita! Tim Maia. – Concluiu ao que toda a mesa despencou em risadas encerrando também essa discussão.
Lá pelo quinto litro, foi a vez do Felipe lançar sua máxima incontestável. Eu falava alguma coisa sobre cinema, e não conseguia me lembrar do nome do filme ou do ator ou da história e comecei a falar um trecho que eu me lembrava já meio bêbado e tudo.
- ta entra um cara mega gordão num restaurante e tudo mais, ai... não espera ai... acho que isso é antes... ta, sei que tem um lance na praia que pra entender a cena... puts, ta imagina um pôr-do-sol! – ele me interrompeu no mesmo segundo berrando!
- BURRO! É UM CREPUSCULO! – ao que a mesa toda novamente desatou em gargalhadas encerrando mais um assunto inacabado.
Mais dois litros se passaram sem máximas incontestáveis, já estávamos bem chumbados e decidimos dar uma volta de carro pra estourar o baseado que Rodrigo tinha fechado. Entramos e Rodrigo sentou bem no meio do banco de traz, começamos a dar umas voltas primeiro pra perder aquela sensação de perigo que se sente na João Alfredo e quando estávamos pela perimetral ascendemos o troço. Fumar dentro de um carro é uma experiência única porque cinco pessoas dentro de um cubículo mal ventilado com um baseado queimando torna tudo além de mais engraçado, mais poderoso, como fumar um cigarro com um aquário na cabeça, tu solta a fumaça, mas ela continua ali. Lá pelas tantas quando já estávamos bem chapados, Téo falou que ia parar pra abastecer. Rodrigo tinha sentado no meio como falei antes, e como bom maconheiro experiente sabia que o baseado ia passar por ele duas vezes a cada volta, nós nem tínhamos notado. O frentista ia abastecendo e olhava pra dentro do carro rindo. Todo mundo ficou um pouco constrangido mas nada de grave, a chapadeira ajudava a superar qualquer pudor. No entanto o motivo pelo qual o frentista ria não era por ter um monte de maconheiros fumando dentro de um carro, foi o motivo que constituiu a penúltima máxima incontestável! Na metade do abastecimento ele botou a cabeça bem perto da janela e falou pro Rodrigo:
- É o Romário então! Não passa a bola! – e riu ainda mais.
- Que? – perguntou Rodrigo sem entender.
- Já to quase terminando o abastecimento e o Romário não passa a bola! Bah! – e desatou a rir, obviamente quando nos demos conta do que ele tinha falado também rimos até nos mijarmos um pouquinho. Quando o carro já ia embora o frentista ainda falou:
- Passa essa bola Romário, os outros também querem jogar! – E foi rindo fazer o próximo abastecimento.
A ultima máxima foi despejada novamente por Felipe, que ao ver um carro da guarda municipal ficou todo malandro e falou:
- Ó os home Téo, da um tempero ai dos meu! – E ainda depois de ver que não se tratava da brigada militar e sim da guarda municipal completou o soneto com: - A é só os municipal, vai se foder, eu cago nesses municipal! – Ao que também todo mundo desatou a rir desesperadamente.
Teodoro levou cada um pra sua casa, e foi pra sua também, encerrando mais uma noite com cheiro de coisa louca. No dia seguinte, ninguém lembrava da noite inteira, e fomos todos conversando e pesquisando até acharmos um denominador comum no meio de toda aquela fumaça e doideira. E a ressaca, eu curei com uma espécie de ritual...
...
Dois detalhes que talvez sejam de interesse do leitor: primeiro, ninguém tinha um tostão no bolso. Segundo, era uma daquelas noites que cheiram a coisa louca. O clima tava perfeito pra se sair na noite, a exata temperatura em que não se sente frio tomando cerveja ridiculamente gelada. Enquanto falava com o Mario pela internet, o interfone começou a tocar, interrompi a conversa e fui abrir o portão pro Felipe, o baixista da banda que já tinha chegado.
- E ai cara – ele falou enquanto já tirava o paletó e ia até a geladeira.
- E ai. – respondi enquanto já voltava pra frente do PC e terminava de combinar os detalhes com Mario. Ele voltou com duas long necks que tinham sobrado da madrugada passada, e me entregou uma aberta enquanto abria a dele.
- Tem algo de grana meu? – ele perguntou rindo de si mesmo.
- Nem pro crivo. – respondi rindo também.
- O Téo falou que também ta duro. – ele comentou ainda rindo.
- Ta, e a noite? – eu perguntei, sem nem pensar muito em grana.
- O plano é ir pro AP lá. – ele respondeu, encerrando a frase com um longo gole de cerveja, procurou pelos cigarros nos bolsos, acendeu um parando atrás de mim e encarando a tela luminosa do PC.
- Certo, só deixa eu trocar de roupa. – falei já me levantando. Ele tomou meu lugar enquanto eu trocava de roupa e ia apagando as luzes da casa.
- Me da um cigarro ai! Bah! Nem me lembrei! – falei voltando pra perto do computador. Ele estendeu o cigarro pra mim, abrindo a carteira com pouco mais de meia dúzia dentro. “Carlton Red” a quem interessar possa. Fui catando minhas coisas que sempre estão nos lugares mais estapafúrdios possíveis e imagináveis, chaves, carteira (não que houvesse algum dentro mas, enfim) e por fim, meia garrafa de vodka que tinha sobrevivido ao inicio do fim de semana. Taquei a garrafa na mochila e fui indo até a porta.
- Desliga tudo duma vez! – falei impaciente.
- Calma, to desligando... – voltei e chutei o interruptor no estabilizador.
- A ta. – ele disse rindo um pouco, mas só de leve, nada grave.
Fomos descendo os andares e conversando qualquer coisa que não consigo me lembrar agora, e muito provavelmente jamais lembre. Alcançamos o portão de saída, toquei no botão ao lado da parede enquanto ele abria a grade.
- bzzzzzzzzzzzzzz – falou o portão com um leve grunhido de cansaço. Provavelmente de ficar o dia todo sendo manuseado pelo bando de imbecis que me servem de vizinhos. De qualquer maneira descemos a quadra até chegar na rua da Casa de Cultura Mario Quintana e fomos andando rumo a cidade baixa. Atravessamos o centro tomando uns goles curtos de vodka e fumando aqueles cigarros de bicha do Felipe. Chegamos a independência e passamos pelo Bambus que estava ás moscas, exceto por um pequeno grupo de vagabundos, menores de idade, viciados em qualquer coisa que não dou a mínima pra o que venha a ser, seguimos andando e conversando, sem caminhar muito rápido por que também era muito cedo e estávamos um tanto quanto sem rumo até pelo menos uma meia-noite. Tentamos ligar pro Téo, mas o celular só tocava e não atendia nunca, devemos ter tentado um bilhão de milhões de vezes, até encher o saco MESMO de ouvir aquela mulhérsinha que fica te mandando deixar um recado que ninguém escuta (exceto viciados em anfetamina com tempo demais nas mãos) após o bip. “biiiiiiiiip”. Começamos a ligar pra todo mundo que poderia por ventura ter o número do convencional e enquanto isso íamos bebendo vodka bem aos pouquinhos só pra dizer que estávamos bebendo alguma coisa, e fumando aqueles cigarros de bicha que a essa altura já estavam quase acabando. Paramos naquela praça na frente da igreja que fica bem no meio da AV. Independência, decididos a conseguir contato com Téo, ligamos pra todo mundo que conhecia ele, ligamos pra mãe dele, pro pai, pras tias, pra madrinha de casamento, pra puta que o pariu, e nada de conseguir o maldito número, os créditos já estavam pela hora da morte e a gente cansado de ouvir tantos “não sei mesmo”. Decidimos ir á casa do avô do Felipe pra usar o telefone e guardar o restante dos créditos pra uma emergência ou qualquer troço do gênero. Caminhamos até a Av. João Pessoa e atravessamos rumo a José do Patrocínio, indo reto pela República, dobrando e caminhando até quase a Perimetral, uma puta caminhada. Quando chegamos aos últimos dois cigarros o Felipe falou:
- Cara, vamos guardar esses pra quando a gente sentar ou algo assim – e eu concordei com a cabeça por que além do cigarro não ser meu, já tínhamos fumado quase a carteira toda e a noite ainda ia ser comprida.
Entramos de fininho na casa do avô dele, que não tinha pátio, nem cachorro, ele tinha as chaves, o telefone ficava logo no primeiro cômodo e o velho dormia como uma morsa, dava pra ouvir os roncos nitidamente, mesmo estando um tanto longe, diabos... acho que se eu me concentrasse a noite conseguiria ouvir lá da minha cama no meu JK fodido. Eu fui sentando do lado do telefone enquanto Felipe ia na cozinha sorrateiramente, tentando roubar algo de beber da geladeira sem acordar a morsa maluca. O avô do Felipe era um cara muito excêntrico, daqueles velhos bem caducos mesmo, dormia com um 22 do tempo do Zorro embaixo do travesseiro e era cego como uma toupeira, dizem que volta e meia apontava pra qualquer pessoa passando pela casa e falava algo doido do tipo: “IDENTIFIQUE-SE OU ATIRO”. Comigo nunca tinha acontecido e olha que eu freqüentava bastante a casa do velho, normalmente assim, às escuras, com ele dormindo e roncando que nem uma morsa. Bom de qualquer maneira, tentei ligar mais umas vezes pro Téo e nada do filho da puta atender, já tava quase arrancando os cabelos de ódio, fico muito irado quando não atendem telefone, me sinto até meio ofendido, e as vezes nem é culpa do cara, mas eu sou meio louco e como sempre esqueço assim que arranjo algo melhor pra fazer, não faz a menor diferença. Felipe voltou com uma carteira novinha de cigarros que o pai dele tinha esquecido por ali, e a terça parte d’uma garrafa de vinho do porto que tava na geladeira a uns 3 meses quase.
- E ai? Nada? – ele perguntou acendendo o penúltimo dos cigarros dele, e me atirando o outro no colo.
- Nadinha. – respondi com a voz em algum lugar entre o desanimo e a irritação.
- Bom. Foda-se! Ele que vá pro diabo! A gente faz a noite mesmo assim, vamo passa no trabalho do Rodrigo, e convida ele pra ir junto pro boteco – ele falou bastante irritado enquanto já ia saindo, saí na frente e fiquei fumando enquanto ele chaveava a porta. Demos um passo em direção ao portão e o telefone começou a tocar loucamente! Felipe pensou rápido e tascou a chave na porta o mais depressa que pode!
- Riiiiing! Riiiiing! Riiiiing! – berrava o telefone nos ouvidos do mamute adormecido! Um segundo antes de Felipe conseguir atender, o telefone parou de tocar, eu entrei junto pra ver se o velho tinha acordado ou algo assim. Felipe falava ao telefone, com a voz mais macia que conseguira desenterrar na hora, parecia até uma cantiga:
- Já atendi vô... Sim é pra mim vô... Não vô. Não to dormindo aqui... Onze e meia vô... To bem sim vô... Boa noite vô – a essa altura eu já estava me mijando de rir, então saí pra não fazer muito barulho e acabei perdendo o resto da conversa. Ele saiu em seguida rindo também, mas sem fazer barulho.
- Bah! Que cômico, o vô tava tri afim de conversa... – ele falou enquanto girava de novo a chave e trancava a porta.
- Era o Téo? – perguntei indo já para o portão e pegando o cadeado.
- Era sim, ele falou que fumou uma bomba e acabou pegando no sono, mas já ta vindo nos pegar em uma meia hora. Que tu acha de a gente ir buscar o Rodrigo? – ele falou já tomando o rumo da Venâncio e eu concordei só chacoalhando a cabeça e fazendo um sinal com a mão pra ele passar o vinho.
Fomos tomando vinho e caminhando meio rápido até a Venâncio onde o Rodrigo trabalhava, ele era cozinheiro num restaurante bacana pertinho do Bar do Beto. Quando chegamos fomos cumprimentando toda a equipe do bar e pedimos pro Jader, o dono mandar uma cervejinha e anotar na conta, fomos até a cozinha e o Rodrigo já tava lavando os troços quase pronto pra sair.
- E ai meu! – Falou Felipe, se escorando no balcão onde faziam os pedidos. Rodrigo só olhou com cara de bravo e continuou fazendo o que tinha que fazer. Se tem um cara que é mau-humorado, esse cara é o Rodrigo, ele sempre da mil voltas quando a gente pede alguma coisa, principalmente quando o assunto é cozinhar, sem falar no monte de frescura! A gente inclusive brinca que pra ele cozinhar qualquer coisa com creme de leite só se ele mesmo ordenhar a vaca holandesa e bater o creme, e ainda se corre o risco de ele se lembrar de algum detalhe mínimo do tipo: “A! mas essa vaca não é de uma boa safra!” e jogar o troço todo fora cheio de desdém. Mas o ponto positivo disso é que, tudo o que ele faz ou tem, é da melhor e mais incontestável qualidade.
- E ai meu, que horas tu sai hoje? – Perguntei me aproximando também do balcão.
- Daqui a pouco. – Falou ele emburrado.
- Ta! A gente te espera ali fora então. Botamos uma cevinha na tua conta, ok? – disse Felipe com uma cara de deboche que só ele sabe fazer, ao que Rodrigo nem sequer respondeu só ficou ali lavando mil utensílios de cozinha, daqueles que um pobre mortal não faz nem idéia de que existem, e se souber também não faz idéia de como usar.
Sentamos num balcão e fizemos sinal pro Jader trazer a bendita cerveja, não ficamos ali tempo o suficiente pra terminá-la, Rodrigo veio já despido dos uniformes e usando a sua infame gandola e nos ajudou na árdua tarefa de tomar aquela geladíssima antártica original, a quem interessar possa. Ficamos de papo pro ar uns minutinhos terminando aquela cerveja e meu celular tocou, era o número do Mario, Atendi e falei pra ele ir até a esquina da Venâncio com a João pessoa e seguimos todos pro rondevous de praxe. O postinho da Venâncio. Rodrigo no caminho sacou de um tijolo de maconha quase do tamanho d’um punho! E começou a esmurrugar enquanto caminhávamos.
- Caras, acho que não vou mais pra Sampa... – falou ele inconclusivo
- Que houve cara? – perguntamos em coro.
- Bom, primeiro que acabei gastando mais do que devia e to meio com medo de passar necessidade lá e ter que voltar com o rabo entre as pernas – puxou a carteira com uma mão e me deu – pega a ceda – peguei uma e dei pra ele, Pure Hemp, a quem interessar possa. Ele continuou:
- E também me fizeram uma proposta... – falou de novo, sempre deixando lacunas, um hábito que deixava todo mundo louco quando ele contava uma história, na verdade acho que ele esquecia de completar as frases e afirmações, passava o dia todo fumando maconha, pra acordar, pra dormir, pra cagar, comer, tirar o lixo, bater punheta, e qualquer outra sorte de tarefa que se possa imaginar.
- Que proposta? – Perguntou Felipe. Eu fiquei quieto ouvindo um tanto distraído.
- Uma guria que eu namorei a muito tempo disse que vai abrir um bistrô pela cidade baixa, e me falou que ta procurando um sócio. Como eu tenho alguma grana guardada, acho que pode ser um bom negócio. – Ele falou rindo por entre os dentes. Quase escondidos embaixo daquela barba. Que barba! Tinha inveja daquela barba, eu particularmente nunca tive saco de deixar a cara toda peluda, mas a barba dele era algo de se apreciar, bem aparadinha, volumosa, um desbunde!
- Bah! Que coisa bacana! E a gente vai poder beber de graça? – Perguntei já rindo e esperando ele esbravejar ou rir loucamente.
- A! Claro! Leva a tua mãe pra ela pagar a conta, vai aceitar visa, máster e boquete – falou ele rindo como uma hiena.
- Nem duvido! Bem louca! – respondi brincando (ou não).
A conversa continuou enquanto esperávamos os dois faltantes. O Mario chegou primeiro.
- E ai caras. – Falou ele sorrindo, era um cara enorme quase dois metros de altura, era o nosso segurança, e vice versa. Todo mundo cumprimentou e começamos a conversar paralelamente botando todas as novidades em dia.
- Bah! Me dei muito! Tava com menos de um pila no bolso, só tinha aquela maconha de semana passada, e nem pude fumar por que o pai veio passar uma semana aqui também. – Mario não era de Porto Alegre, era Uruguaio mas morava em porto alegre a uns bons quatro anos e quase nem se notava o sotaque. – Daí quando fui sair ele me perguntou como eu tava de dinheiro, mas não falei nada. Ele me deu vinte pila! To rico! – Continuou se rindo todo. Vinte reais é de fato uma fortuna pra quem não tem absolutamente nada na carteira, acredite.
O homem do teclado apareceu uns quinze minutos depois do combinado, mas nem notamos a espera, de tão boa que tava a conversa. Ele tava de carro e depois de todo mundo entrar e se cumprimentar, ele lançou o fatal:
- Pra onde gurizada? – tava com uma cara engraçada, parecia meio chapado ainda, tava até meio catatônico ou qualquer coisa que o valha.
- Eletric lady land né meu?! – falei ascendendo mais um cigarro. Todo mundo assentiu.
O Téo, era o cara mais legal da galaxia, era um pouco mais velho que o resto, amava um bom e velho rock n’ roll, não passava sem uma cervejinha e tava sempre disponível pra maluquices pela madrugada. Ele tinha um DVD pelo qual era pirado chamado “O universo”, todo mundo zoava que tinha custado noventa contos e era uma porra de um documentário do Discovery Channel ou qualquer outro canal que fica jogando informação cientifica mastigada pra leigos vinte e quatro horas por dia. Ele adorava! Vivia corrigindo os outros com afirmações das mais variadas. A pouco tempo o pessoal do escritório de contabilidade onde trabalhavam ele e Felipe tinham feito um passeio de caiaque em algum lugar do Acre, ou Sibéria, ou Três Coroas, Prússia, sei lá, e uma das gurias comentou algo do gênero: “- Nossa que lindo esse pôr-do-sol” ao que ele respondeu no mesmo segundo “BURRA! É UM CREPUSCULO!”.
De qualquer forma fomos até o Eletric lady land, mas a essas alturas já tava fechado. Como estávamos sempre por ali e éramos bem amigos do dono, pedimos pro segurança pra falar com ele e o cara deixou numa boa. Rodrigo entrou e no segundo seguinte estávamos sentados numa mesinha redonda ouvindo Led Zeppelin. Alguém ordenou: - Mostrem as cartas gurizada! – ao que todo mundo puxou todo o dinheiro que tinha e lançou no centro da mesa, tinha uns trinta e cinco contos, o que ali significava cerca de 7 litros de cerveja. A cerveja mais barata da cidade. Polar, a quem interessar possa. Durante o primeiro litro todo mundo conversava um tanto pausadamente, meio que aproveitando pra matar a sede da caminhada e de todas as outras peripécias, já durante o segundo começaram a surgir as máximas incontestáveis. Aquele tipo de coisa que, quando sai da boca de alguém, toda a mesa para de falar e ri até doer o abdome, ou faltar ar, ou desmaiar, enfim “you get the picture”. A primeira se não me engano foi do Mario.
- Sabe esses pesquisadores, que como trabalham com isso e precisam de fundos pra se manterem trabalhando inventam as coisas mais absurdas pra se pesquisar. Bom, um grupo de pesquisadores alemães, ou austríacos, ou sul africanos, descobriram que tomar ducha faz mal a saúde, por que conforme o plástico é aquecido pela água ele libera uma substancia, isso ao longo de um certo tempo é claro... – falou Mario, eu interrompi.
- Quanto tempo? – olhando com atenção.
- Sei lá, uns anos eu acho, mas enfim aquilo se mistura às partículas de água que ficam no ar e é absorvido pelo pulmão causando uma doença do mal lá. – Concluiu Mario.
- Mas nunca ninguém morreu de ducha! – Falei resignado.
- Não tem como saber, pode ter morrido, vai saber – Falou Téo.
- Bah! Vai ver os europeus já sabiam disso a muitos e muitos anos! – Falei, no que todo mundo despencou a gargalhar e encerrou o assunto.
As cervejas continuavam vindo e lá pelas tantas, Téo lançou outra máxima incontestável enquanto uma discussão política começava a surgir de fininho.
- O Brasil é o único país em que além de, puta ter orgasmo, cafetão ter ciúmes, e traficante ser viciado, pobre é de direita! Tim Maia. – Concluiu ao que toda a mesa despencou em risadas encerrando também essa discussão.
Lá pelo quinto litro, foi a vez do Felipe lançar sua máxima incontestável. Eu falava alguma coisa sobre cinema, e não conseguia me lembrar do nome do filme ou do ator ou da história e comecei a falar um trecho que eu me lembrava já meio bêbado e tudo.
- ta entra um cara mega gordão num restaurante e tudo mais, ai... não espera ai... acho que isso é antes... ta, sei que tem um lance na praia que pra entender a cena... puts, ta imagina um pôr-do-sol! – ele me interrompeu no mesmo segundo berrando!
- BURRO! É UM CREPUSCULO! – ao que a mesa toda novamente desatou em gargalhadas encerrando mais um assunto inacabado.
Mais dois litros se passaram sem máximas incontestáveis, já estávamos bem chumbados e decidimos dar uma volta de carro pra estourar o baseado que Rodrigo tinha fechado. Entramos e Rodrigo sentou bem no meio do banco de traz, começamos a dar umas voltas primeiro pra perder aquela sensação de perigo que se sente na João Alfredo e quando estávamos pela perimetral ascendemos o troço. Fumar dentro de um carro é uma experiência única porque cinco pessoas dentro de um cubículo mal ventilado com um baseado queimando torna tudo além de mais engraçado, mais poderoso, como fumar um cigarro com um aquário na cabeça, tu solta a fumaça, mas ela continua ali. Lá pelas tantas quando já estávamos bem chapados, Téo falou que ia parar pra abastecer. Rodrigo tinha sentado no meio como falei antes, e como bom maconheiro experiente sabia que o baseado ia passar por ele duas vezes a cada volta, nós nem tínhamos notado. O frentista ia abastecendo e olhava pra dentro do carro rindo. Todo mundo ficou um pouco constrangido mas nada de grave, a chapadeira ajudava a superar qualquer pudor. No entanto o motivo pelo qual o frentista ria não era por ter um monte de maconheiros fumando dentro de um carro, foi o motivo que constituiu a penúltima máxima incontestável! Na metade do abastecimento ele botou a cabeça bem perto da janela e falou pro Rodrigo:
- É o Romário então! Não passa a bola! – e riu ainda mais.
- Que? – perguntou Rodrigo sem entender.
- Já to quase terminando o abastecimento e o Romário não passa a bola! Bah! – e desatou a rir, obviamente quando nos demos conta do que ele tinha falado também rimos até nos mijarmos um pouquinho. Quando o carro já ia embora o frentista ainda falou:
- Passa essa bola Romário, os outros também querem jogar! – E foi rindo fazer o próximo abastecimento.
A ultima máxima foi despejada novamente por Felipe, que ao ver um carro da guarda municipal ficou todo malandro e falou:
- Ó os home Téo, da um tempero ai dos meu! – E ainda depois de ver que não se tratava da brigada militar e sim da guarda municipal completou o soneto com: - A é só os municipal, vai se foder, eu cago nesses municipal! – Ao que também todo mundo desatou a rir desesperadamente.
Teodoro levou cada um pra sua casa, e foi pra sua também, encerrando mais uma noite com cheiro de coisa louca. No dia seguinte, ninguém lembrava da noite inteira, e fomos todos conversando e pesquisando até acharmos um denominador comum no meio de toda aquela fumaça e doideira. E a ressaca, eu curei com uma espécie de ritual...
...
(pra todo mundo que me conhece, ou não)
2 comentários:
huahauhahauhaua XD
triiiii
divertido!!
Postar um comentário