sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Retrato II

Um homem caminha rápido pela calçada
Desviando-se das pessoas no caminho
Andar marcial, rígido e preciso como uma máquina
Um terno preto abotoado na altura da barriga
Gravata vermelha, apertada contra a garganta
Sapatos pretos, muito bem engraxados
Gordo, porém elegante e impecável
Ele sua sob o sol de Setembro
O cenho franzido sob os cabelos loiros ralos
Olhos azuis claros, com raias vermelhas inchadas,
Fugindo da claridade intermitente
Ele carrega uma pasta lustrosa marrom
Exala um odor de perfume importado
Hálito de uísque e cigarro
Um totem de poder urbano
Carranca de bicho homem

...

Retrato I

Um guri caminhando pelo meio da rua
Jeans rasgados nas barras, azuis desbotados
Contrastando com o negro do asfalto
Cabelos crespos mal cuidados cobrindo os olhos
Castanhos escuro, enterrados no chão
Perdidos numa miríade alcoólica
De mil quadros flácidos recortados
Uma garrafa de plástico na mão esquerda
Cachaça barata, pela metade
Dos lábios que sangram, pende um cigarro
Filtro vermelho, quebrado e apagado
Ele descreve um ângulo variável
Enquanto se equilibra de um pé para o outro
Uma argola de metal fosco serve de adorno a orelha
Não há carros, ou pessoas
Só o eco dos passos
E as luzes alaranjadas dos postes
Incendiando o concreto das calçadas

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