quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Câncer

Me da tua mão
Toca meu rosto
Sente minha face
Já que te recusas a me ver de verdade
Me beija a boca
Sente meu veneno
Te embriaga com meu cheiro
Me chama de amigo
Me sente perto
Descansa sobre meu peito
Sou todo teu
Enquanto estiver aqui
E quando partir
Serei diferente
Tu me conheces bem
E ainda assim insiste em me ter por perto
Eu sou a tua morte
E bato na tua janela a noite
E te peço abrigo e carinho
E tu me acolhe
Estende o braço ao abismo
Somos o fim um do outro
Amantes e assassinos
...

Arlequim

Que venha a hora inclemente
O ápice da loucura infante
Subto como um raio
Que fulmine
E que da dor lancinante
Brotem flores vivas
Violetas, lindas violetas brancas
E do idolo que se tornou
Toda verdade sangrou
Numa hemorragia de verbos mentirosos
Caminhei tanto meu amigo
E agora que cheguei
Me vejo ainda mais sozinho
Sei que cheguei a algum lugar
Mas esta terra morta
Era diferente em meu sonho
Vivo, e cheio de cores
Busco um caminho
Uma ponte para a eternidade
Fugir deste deserto longinquo
Na esquina
Uma sombra me chama
Quer ouvir uma mentira bonita
Me embreagar
Me levar pra cama
E um simples "não" me salvaria
Deste calvario de noites vazias

...

Coleção

Sobre um armario escolhido
Com muito carinho e zelo
Há um altar povoado
De velhas paixões do passado
Uma é negra e esguia
Com os dentes bem brancos e bonitos
Mas tropeçou e ficou no caminho
Atirado como um bebado maldito
Uma tem os olhos bem verdes
E um sorriso canalha
E de tão canalha
Fugiu para praia com meu melhor amigo
Uma é mulata e infante
Cheia de perguntas estúpidas
Mas o perfume
Hum, disso nunca me esqueço
Uma é bem branca e infame
Inocente, quase um anjo
Com alguma sorte
Talvez eu seja o primeiro
Da coleção de erros na sua estante
...

Plagio

E de tanto que a amava
Terminou, esperando que
Algum arrependimento a fizesse
Recobrar a paixão que morria
Saiu do apartamento, irredutivel
Sem saber que matara aos dois
Em apenas um dia aconteceu
Algo sem concertos se quebrou
A alma o coração ou coisa que o valha
E seu silencio de tão calmo fascinava
E realmente já nem importava
Já passara a fase de se trancar no quarto
Causar preocupação
A verdade é que as coisas de uma hora pra outra
Pararam de fazer sentido
E não sentia fome ou sono
Era como se nem estivesse vivo
Seus olhos fundos davam a impressão
De um oceano, atrás de uma parede de tijolos
E toda essa dor
Não trouxe de volta a mulher
A quem abandonou ainda apaixonado
Um dia de chuva
Um carro desgovernado
E um futuro, morto no passado
...

Querida Carolina

Carolina nunca quis trabalhar
Fazia do mundo sua sala de estar
Tinha planos de ir embora
Para algum país distante
Onde pudesse sentir-se viva
Ignorava o tremendo vazio
Que a esmagava todo o dia
Estava lá, em tudo o que fazia
Já nem sequer dormia
Talvez fosse a depressão
Talvez fosse a cocaína
Talvez os dois, por que não?
Sei que despertou uma tarde
Tomada de paixão
E dos tempos morbidos
Nem restos restaram
Eo rapaz que nem 18 tinha
Também era um pleno vagabundo
Vagando só noite e dia
Sem causa, crença nem rumo
Sem lugar no mundo
E desejava derrepente
Se ver sempre refletido
Naqueles olhos tão castanhos
Em menos de um mês
Carolina o deixou
E do que era o rapaz
Nem resto restou
...