sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Micro-cosmo

Tenho uma casa onde o sol se põe
E outra onde o sol nasce
Uma é povoada por mulheres
Mães, avós, sobrinhas
Esta sempre limpa
Com comida apitando nas panelas
Cheia de chás, santos de gesso e mistérios
A outra é povoada por homens
Pais, avós, primos
Esta sempre a beira do caos
Cheia de bebidas, cigarros e livros
Mulheres simpaticas que flutuam
De cômodo em cômodo tirando o pó
E depois evanescem como areia das mãos
Eu vejo o nascer do sol, deitado numa poltrona
Diante da porta escancarada
Enquanto o mundo dorme
E parto em jornada, bucando o horizonte
Assisto o por do sol
Sentado nas escadas, minhas escadas
E ambos os universos
Colidem em mim
Como em uma fabula
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ralo abaixo

Teu olho verde, cor da inveja
Tua risada, ausencia de palavras
Quando te calo com uma frase afiada
Tua habilidade mistica de fingir
Que nada aconteceu, noite passada
Teus depoimentos vagos
Noites mal dormidas
Promessas e afagos
Correndo ralo abaixo
Como sangue coagulado
Semem e sujeira, água imunda
É noite outra vez
E tu me diz que não me quer
E eu te digo que não importa
Que nunca importou
E num átimo, meu universo se parte
E construo outro no lugar
Um em que tua presença
É no máximo irrelevante
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terça-feira, 17 de agosto de 2010

"Falsto"

Meu riso de escárnio
Rosas brancas, tingidas de escarlate
Num jardim de plástico
Tudo é falso, não há compaixão
Teu irmão, quer tua miséria
Tua felicidade incomoda, arde!
Todo sorriso teu será censurado
O monstro verde da inveja te olha
Com os olhos opacos, anuviados
Reza às parcas que te vigiem
Reza por malogro e desespero
Quer-te nos braços,
Afundar contigo no abismo
Solidão é a cura pra todo infortúnio
Teus amores te detestam
Tua jarra secou
Até o vinho te abandona
Só te resta a noite
E esse líquido que escorre
Devagar... tão devagar...
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