quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ornitorrinco Zen

Estendido sobre a cama
Um universo de resoluções apocalipticas
Se espalha por todo o tecido áspero
Macro cosmos de infinitas possibilidades
O cerebro queima como fogueira
Explodindo mil idéias fúteis
No caminho da verdade velada
Escondida nas luas distantes do subconsciente
Inerte, se deixa mesclar ao ambiente
Reconhecendo as deixas e contratos tácitos
Secretos e tão óbvios
Dentro dos companheiros de quarto
Camaleão tecnicolor
Cuspindo farpas nos jalecos higienizados
Olhando ao redor: porta, janela e sacada
Perdido no labirinto do Fauno
À espera do inesperado, inevitavel
Crisalida de espelhos
Análise pontiaguda dos nichos internos
Rasgando pele e osso
Na busca da palavra que liberta
Titã gentis, fragil como o exoesqueleto
Da mais leve borboleta
Tão leve, flutua de si
Nas páginas de um livro
Nos jardins da memória
Afundando entre peixes carnivoros
...
(A um verme)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Lexotan 6mg

Gato preto e branco
Andando pela casa inteira
Quase sem quebrar nada
Aniquilando os intrusos
Os fiosinhos sedutores
E do nada tu me acorda
As cinco da madrugada
Come essa porra de salsicha
Para de comer meus livros;
canetas; cartas; fotos; convidados
Fascinada pela caixinha fedida
E ronrona, e se roça
E senta na minha cara
Só não franze o cenho nem nada
...
(para Joy a gata e o amigo farmaceutico)

Mães de escorpião

E bate os pés pela casa
Rugindo feito um trovão
E conta todo o dinheiro
E pega o recibo na mão
Eu fico esperando passar a ventania
De qualquer forma
Pouco resolveria
Chorar de raiva ou gritar de volta
E, se demora um pouco
Tentando arrancar sangue
- Tu não vai ser nada na vida
Mas depois que a gente ouve isso
Com uma certa frequencia
Se torna questão de paciencia
Como lidar com uma cabrita enraivecida
...
(para Daniela Weber)

Virgin Suicides

Cleopatra deitada
Seu firme rabo, aponta a janela,
Suas meias molhadas
revelam o apuro dela
E os cabeludos contracenam como extras
Um ensaio inexato,
Exaspera-se: -Em Caxias ta cheio de macho
Mas que bagunça
Ta tudo desorganizado
E meu Deus, minhas lentes de contato
Gente, que vinho ruim
Não. Não querido, tu ta errado
E eu bebo, e rio, e falo o Diabo
Só pra chorar longe do meu quarto
Por que né, é bom variar o ambiente
...
(para Jessie Gabriela)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O porteiro do plaza

Destruiram a métrica
Em algum lugar
Um velhinho soturno se vangloria
De ter matado toda a poesia
Não vende, ninguém lê
Ninguém se importa
É bacana de se ter num diario
Mas e daí né
Sou o porteiro do plaza
Que escreve poemas sujos
Sobre gente rica
Que entra e sai o tempo todo
...
(para Kauan Negri)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Capital

Meu porto de águas turvas
Tão distante de outros portos
Teu sol, que é só teu aos domingos
Teus pedintes orgulhosos
Teus poetas bebados e maltrapilhos
As praças pesadas e cheias de histórias
Deserto de asfalto nas madrugadas
Luzes sinuosas, janelas iluminadas
Esse céu pesado, chumbo e aço do outono
De quando em quando se abre
E banha de azul e dourado
Teu rio, que é mar e tempestade
Nas noites longas de suplício
Dor e delícia enclausurada
Solidão pre-planejada
Apartametos tão cheios de vazio
Meu porto de águas turvas
Meu triste porto
...

Rompimento

Me perco nos olhos vagos
Dos bebados atirados pelos quartos,
Uns sobre os outros,
Uma grande célula libertária,
Flanando no plasma atemporal,
Sintético e áspero que compõe a noite,
Unica e indivisivel,
Cheia de cenas "noir", nuances,
Memórias, cigarros.
Eu me perco dentro de mim
E te encontro. Esqueço o que eu sou,
E o que tu deixa de ser quando
Por uma palavra
Tudo desaba.
Bebo eu, bebe tu.
Quero de volta cada silencio
...
(para Henrique Wopala)