quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Urbano

Árvores estéreis que brotam do concreto
Pequenos bancos assimétricos de madeira
Onde sentam sob o sol gotejante
Famílias inteiras
Fumando seus cachimbos de pedra
Volita em torno de um obá gigantesco
Um ser de éter cavalgando metal polido e plástico
Imerso em pensamentos vãos e vagos
Ouvidos cobertos pela música soando nos fones

Um organismo complexo, quase simbiótico
Mas não se olham, calam e seguem
E já as sete, o mundo todo apodrece
Vermes pulsam esgoto a fora
Contorcem-se ao som das buzinas e a luz dos faróis
Sob o sinal vermelho um cadáver dança
Vestido de homem negro

Monóxido de carbono substitui o oxigênio
Todos olham para o chão, mortos de medo
E a violência e o abandono sente-se no ar
Uma criança revira o lixo a caça de alimento
E a própria lua se tinge de vermelho
Tamanha a podridão e o desespero

Um homem de espartilho sorri na penumbra
Uma mulher dança nua sob o colo de um desconhecido
Um grito ecoa. Um grito de cordeiro novo
Me da um cigarro, umas moedas pro leite,
Pro remédio da minha mulher
Um grito de cordeiro novo
No fundo d’um beco
O pleno som do aborto

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