quinta-feira, 11 de março de 2010

Intermitencias da morte

Eu recuo nessa nevoa cinzenta
e o céu é breu e micropontos de luz imaginaria
é o passado, e agora que retorno
nada me parece muito importante
dessa massa desconjunta e sem cor que é a vida, a minha vida
não consigo extrair uma onça de sentido
sequer aprendi com meus erros
levo só uma vaga sensação de ter deixado algo incompleto.
E só, mais nada
Olhei as fotografias todas, uma a uma
quase uma centena delas e não vi nada.
todos esses amigos, tantos e sempre tão essenciais
por terem sido parte daquilo
aqueles olhos que eu olhava com carinho
agora são só sorrisos congelados
num papel plastificado
micropontos imaginarios de luz
sei que toda a vez que os olhar vão estar ali
Prossigo por uma estrada lodosa e escorregadia
ainda recuo, então não prossigo
retrocedo e faço mesuras para os vultos
eles não tem rosto, estão todos calados
negros como fumaça, estranhos e esquivos
não posso toca-los, e eles não podem tocar-me tampouco
o que me é permitido é dar-lhes nomes
citar lugares, mas vão permanecer o que são,
com nomes e em lugares, em algum lugar da minha memória
"quem me é caro esta morto", penso.
E imagino, não fossem as fotografias
esse limbo interno pulsante e escuro
seria composto de vacuo e vazio e do nada
e eu não teria nomes ou lugares para dar aos meus vultos
e eles seriam também vacuo e vazio e nada
eu deito só e minha consciencia escapa
a racionalidade não é a mesma, não é tão apurada
é fraca e indolente, dobravel, mutavel
eu vejo um homem sentado ao pé da minha cama
ele me põe moedas nos olhos, e chora baixinho
e eu sigo. Retrocedo... alguém me acompanha.
...

Um comentário:

Gustavo disse...

Po, intenso! é foda de comentar quando os textos são bem intimos assim. Mas gostaria de dizer q os melhores textos (e produção artística em geral) na minha opinião são sempre intimos de alguma forma. E aprendi contigo um pouco disso, de se expressar sem medo. Gostei do texto, issae!